Espaços Públicos – Cosmopolita
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Espaços Públicos

Francisco Capoulade (Diretor e co-fundador  do Ipep)

Elisabete Monteiro (Co-fundadora do Ipep)

Caio Padovan (Co-fundador do Ipep)

Nota dos autores:

O texto a seguir integra uma série de três escritos que expressam a maneira pela qual nós, cofundadores do IPEP, concebemos os Espaços Públicos, a Psicanálise e nossa abordagem de Pesquisa em Psicanálise. Estes textos são fruto de um período de reconfiguração de nossa instituição e representam a abertura de um novo capítulo em nossa trajetória. Por essa razão, decidimos torná-los públicos.

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A noção de espaços públicos ocupa um lugar central no projeto do Instituto de Pesquisa e Estudos em Psicanálise nos Espaços Públicos — intimamente, chamado de IPEP — tanto como realidade urbana concreta quanto como questão ética, política e simbólica. Nosso interesse por esses espaços parte do reconhecimento de sua dupla natureza: são, ao mesmo tempo, lugares de passagem, de encontros e de desencontros, onde a vida coletiva se inscreve cotidianamente, e territórios que concentram tensões, conflitos e exclusões que atravessam o laço social — em suma, o mal-estar na civilização.

Inspiramo-nos em uma definição que nos parece especialmente elucidativa:
Espaço público é o conjunto dos espaços de passagem e de reunião que são de uso de todos, em especial os espaços urbanos. Eles pertencem ou ao Estado (domínio público), ou a uma entidade jurídica e moral de direito, ou, excepcionalmente, ao domínio privado.

Assim, os espaços públicos se configuram como dispositivos estruturantes da vida moderna. Não se restringem a praças, ruas ou edifícios de uso coletivo: abrangem todos os lugares acessíveis à pluralidade dos sujeitos, onde se torna possível o encontro — inclusive com a alteridade, o sofrimento e o desejo. Nesse horizonte, os ambientes digitais — como as redes sociais e demais plataformas da internet — passaram também a compor a cartografia dos espaços públicos contemporâneos. Tornaram-se arenas de visibilidade e de discurso, onde o sujeito se expõe, interage, sofre e busca dar sentido à sua experiência. Com suas virtualidades, esses espaços participam ativamente da construção do laço social, produzindo formas de presença, pertencimento e exclusão com efeitos tão reais quanto os dos espaços urbanos. São, como seus equivalentes físicos, marcados por ambivalência: por um lado, favorecem a convivência, a partilha e a expressão pública; por outro, estão submetidos a lógicas de vigilância, normatização e silenciamento — paradoxos que interpelam a escuta psicanalítica e a exigem em novos territórios.

Para nós, membros do IPEP, esses espaços públicos nos interessam enquanto lugares onde o sujeito se mostra, se desloca, sofre e, por vezes, encontra escuta. A escuta psicanalítica nesses espaços não visa apenas à clínica tradicional, mas se abre para formas de presença e de intervenção que respeitam a singularidade, mesmo nos contextos mais atravessados por precariedade, violência e silenciamento.

Nesse sentido, o IPEP busca articular pesquisa, estudo e prática em torno da pergunta: como a psicanálise pode se fazer presente – a partir de sua própria ética e política – nos espaços públicos de nossos dias? Essa pergunta nos leva a reconsiderar tanto a geografia urbana quanto as fronteiras do próprio campo psicanalítico. O espaço público é aqui pensado como lugar de passagem, mas também como potencial espaço de inscrição subjetiva, ou seja, é uma produção e não uma condição.

Nosso trabalho, então, parte do princípio de que o espaço público é, antes de tudo, espaço de linguagem. É aí que o sujeito pode se autorizar a dizer algo (ainda que seja em silêncio) e que o psicanalista, (na instituição ou na clínica) pode se colocar em posição de escuta. Entre o privado e o coletivo, entre a cidade, a rede e o sujeito, os espaços públicos constituem, portanto, um ponto de tensão e criação, onde o trabalho psicanalítico encontra novos contornos e desafios. Essa é a nossa aposta!

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