Relações Artificiais? – Cosmopolita
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Relações Artificiais?

Nos últimos anos, com o avanço da tecnologia e tudo que vivenciamos durante e pós- Covid-19, coloquei-me a pensar sobre o funcionamento das inteligências artificiais e se a psicanálise teria algo para dialogar com isso. 

Comecemos aqui com explicações que, embora possam parecer óbvias, são de suma importância. Afinal o que é a psicanálise? A psicanálise é uma teoria e um método terapêutico desenvolvido por Sigmund Freud no final do século XIX, que visa o funcionamento dos processos psíquicos inconscientes e os seus desdobramentos na vida do sujeito. 

Certa vez, pude escutar da querida psicanalista Maria Rita Kehl que “o trabalho da psicanálise é de recolher aquilo que sufoca no mundo”, aquilo que a sociedade, diante de suas regras e normas, procura esconder e transformar em sintoma, aquilo que é único, aquilo que é o sujeito!

Sendo assim, seria possível que essa tarefa fosse atribuída a um aplicativo ou a um programa de inteligência artificial? 

A criação e o desenvolvimento de Chatbots terapêuticos hoje nos mostra um pouco dessas mudanças de relação com outro e com o mundo ao nosso redor. Esses programas foram projetados para interagir com os usuários de maneira semelhante a um terapeuta humano, oferecendo suporte emocional através de respostas a perguntas angustiantes, para tomada de decisões, na tentativa de condução de uma sessão de terapia. Apesar de algumas limitações, coloco-me a pensar o quanto isso pode afetar nosso fazer, não no sentido de uma diminuição da procura dos pacientes por algo da relação humano-humano, mas sim, como podemos ler o mundo à nossa volta agora, diante dessas tecnologias? Qual o impacto disso nas formações do inconsciente? Os pacientes, agora, sonham a partir de quê? Trazem à tona numa sessão os seus relatos com qual olhar?
Posso dizer aqui que as interferências serão vistas e devidamente pensadas a longo prazo, mas, desde já, escuto relatos como: “Eu tive um sonho, e o ChatGPT me disse o que era e o que eu poderia fazer com essa angústia”. 

Continuo a apostar na psicanálise, e que o trabalho dela é recolher aquilo que sufoca no mundo, se não, esse paciente não teria mantido a sessão de análise para me relatar sobre a experiência com essa tecnologia. De certa forma, mesmo parecendo que essas ferramentas têm todas as respostas, ainda tem algo que lhes falta, que faz com que o paciente venha até a sessão semanal com data e hora marcados. 

Talvez a transferência ainda seja algo exclusivo dos analistas. Apostemos nela.

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