Cenas do cotidiano  – Cosmopolita
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Cenas do cotidiano 

Minutos antes do fuzilamento

O primeiro condenado não sentia culpa e assoviava uma canção da infância 

O segundo condenado implorou pelo beijo de uma mulher que morreu há cem anos

O terceiro condenado pediu para cheirar a roupa íntima da madrasta

O quarto condenado gargalhava de ódio para os que lhe dedicavam orações

E o quinto condenado insultava todas as pátrias e as famílias de posses 

Lábios clandestinos no arbusto 

Um grilo empalhado no bueiro 

Um frasco de perfume que possui a linguagem das vespas 

A jovem bruxa, cujo pescoço em brasa leva ao desfiladeiro da cama, esqueceu o olhar na mata

O poeta encontrou a lente esquerda dos óculos da bruxa(lente azul…  O olhar da bruxa?)  

Cortados em dois

Separados por um mar feito de lama, esqueletos e excrementos de gente rica  

Os amantes vagam pelo centro da cidade com mais de quarenta graus de febre 

Condenados a relinchar numa festa 

Deslizando pelas paredes que sangram

Ouvindo uma salva de tiros que possui as cores de um dia sem sol   

A praça foi arrancada da página do peito e demolida como muro de papel 

A metade do olhar 

Roubada pela ventania sem direção certa

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