Entre necessidade, demanda e desejo: anseios de uma sociedade líquida – Cosmopolita
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Entre necessidade, demanda e desejo: anseios de uma sociedade líquida

Vivemos em uma era caracterizada por uma profunda transformação social, cultural e tecnológica. 

O sociólogo Zygmunt Bauman cunhou o termo “modernidade líquida” para descrever esse período de constantes mudanças e incertezas, onde as estruturas sociais tradicionais se tornam fluidas e as identidades se transformam rapidamente. Nos tempos modernos, a liquidez define nossa experiência coletiva, moldando nossas relações, valores e modos de vida.

Uma das características distintivas da modernidade líquida é a rápida obsolescência. Isso mesmo, você não leu errado. Na verdade pode ser que esse texto que você está lendo se torne líquido antes mesmo de acabar…

 Tecnologias emergem e desaparecem em um piscar de olhos, assim como as formas tradicionais de trabalho e comunicação. Essa fluidez tecnológica cria um ambiente no qual a adaptação constante se torna essencial. Indivíduos e organizações que não conseguem acompanhar as mudanças correm o risco de ficar à margem, presos em uma correnteza de inovação.

No entanto, a modernidade líquida não se limita apenas ao domínio tecnológico. As relações humanas também se tornaram mais efêmeras. A ascensão das redes sociais, por exemplo, proporciona uma conexão instantânea, mas muitas vezes superficial. As amizades e relacionamentos são formados e desfeitos com facilidade, e o conceito de comunidade se expande para incluir uma gama diversificada de interações online.

Perguntas como: Em quem posso confiar? Mas qual a finalidade disso que estou fazendo? Na verdade, o que se pensa constantemente é… qual o meu ganho com isso?

A liquidez também se manifesta nas identidades individuais. Em uma sociedade onde as fronteiras são permeáveis e as definições são fluidas, as pessoas são estimuladas (forçadas) a se reinventar constantemente. As carreiras não são mais lineares, e as escolhas de vida são multifacetadas. 

A pressão para se adaptar e evoluir pode ser esmagadora, levando a uma sensação de ansiedade e falta de estabilidade.

O mundo digital, apesar de conectar instantaneamente milhões, também propaga uma superficialidade assustadora. As redes sociais, tidas como catalisadoras da comunicação moderna, frequentemente reduzem relacionamentos significativos a meros cliques e curtidas. A instantaneidade da conexão online muitas vezes desconsidera a profundidade das relações humanas, substituindo laços reais por uma ilusão de conexão.

No âmbito profissional, a modernidade líquida revela uma economia caracterizada pela precariedade. Contratos temporários, gig economy e automação ameaçam a estabilidade financeira e emocional dos trabalhadores. A inovação, em vez de ser um farol de progresso, frequentemente se torna uma arma de destruição massiva de empregos tradicionais, deixando muitos à deriva em um oceano de incertezas econômicas.

A fluidez identitária, outro pilar da modernidade líquida, também tem suas sombras. A busca incessante por uma reinvenção constante pode levar a uma sensação de vazio existencial. A falta de raízes e a instabilidade nas relações pessoais podem gerar uma sociedade de indivíduos solitários, incapazes de encontrar significado em um mundo onde tudo é transitório.

Nesse cenário, a modernidade líquida exige uma crítica contundente. Devemos questionar se a constante busca por inovação e flexibilidade está genuinamente melhorando nossas vidas ou se está apenas alimentando uma cultura de descarte, onde as relações são descartadas apenas com um deixar se seguir se estão desinteressantes. 

A liquidez da modernidade pode oferecer oportunidades, mas também pode afogar as raízes que nos conectam à essência da humanidade.

Finais de ano sempre trazem resoluções e reflexões…  desejo que você reencontre as raízes daquilo que te faz pulsar de forma singular e não líquida. 

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